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Breve Colóquio do Satanismo Moderno

Breve Colóquio Satânico - Iniciação Satanismo Moderno

Guia iniciantes do Satanismo Moderno

Morbitvs Vividvs,
(Anno Satanas XLI)



Fazem mais de nove anos que, sem exceção, recebo diariamente mensagens de buscadores que bem ou mal intencionados desejam conhecer mais sobre Satanismo.  Certamente louvável a busca pelo conhecimento, mas a maioria dessas pessoas poderia "saber mais" se ao menos soubessem alguma coisa primeiro.

Esta obra é tanto um elogio aos verdadeiramente interessados quanto um atestado de minha falta de paciência para retomar o tempo todo aos conceitos básicos. Perguntas sobre pactos de sangue, inversões cristãs, sacrifícios e adoração do diabo tomam demasiadamente tempo e energia que poderiam ser dedicados a questionamentos mais profundos.

Peço pessoalmente a todos os satanistas experientes que indiquem este Breve Colóquio Satânico a aqueles que estão começando seus estudos e descobrindo pela primeira vez o caminho que leva a mais alta manifestação de vida humana. Aqui poderão ser encontradas em um só livro as respostas as perguntas mais comuns sobre o Satanismo.

Não é intenção de o autor instituir qualquer dogma absoluto, mas sim expor uma que ele mesmo considera coerente com sua vivência em grupos e indivíduos genuinamente satânicos. Assim esta pequena obra foi desenvolvida após muita discussão e consulta com diversos os membros interessados do Templo de Satã, entre eles Bruna Dafnek, Érika, Lady Evil, Mystica Eritran, Satyrus Nocturnal Evil, Set-Hen e em especial aos sacerdotes Lord Ahriman e Óbito.

Um conhecimento das perguntas e respostas aqui presentes será exigido como leitura obrigatória para todos os candidatos a membro do Templo de Satã daqui em diante, mas todos devem igualmente sentir-se livres para questionar e discutir as idéias aqui defendidas.

Novamente, o uso deste documento para o esclarecimento satânico é permitido e encorajado. É meu profundo desejo que não desperdicemos mais tempo do que o necessário explicando o óbvio e respondendo as mesmas perguntas. Que as dúvidas de sempre sejam substituídas por dúvidas mais atrozes.

Por fim, o texto é propositalmente sucinto. Mais do que um ensaio filosófico, meu objetivo e esclarecer de vez as questões de sempre. Faço minhas as palavras de Pascal, desculpando-me por esse texto tão longo. Tivesse eu mais tempo, ele teria sido muito menor.



        I.    O que é Satanismo?
      II.    Satanistas acreditam em Deus e no Diabo?
    III.    Satanistas desrespeitam as leis?
   IV.    Satanistas adoram o diabo?
     V.    Satanismo é uma inversão do cristianismo?
   VI.    Como os Satanistas encaram a vida após a morte?
 VII.    O que é um Ritual Satânico?
VIII.    Satanistas realizam sacrifícios?
    IX.    Satanistas fazem pacto com o diabo?
      X.    Satanistas têm paz e felicidade?
    XI.    Satanistas são dedicados ao mal?
  XII.    Como me torno um Satanista?



        I.    O que é Satanismo?

O Satanismo é uma crença com uma herança filosófica e religiosa muito antiga mas que só foi oficialmente estabilizada em 1966 quando Anton Szandor LaVey anunciou ao público a criação da Igreja de Satã e se auto-proclamou sumo sacerdote, dedicando sua carreira e os próximos anos a exposição de seus princípios teóricos e práticos.

O Satanismo é o culto à Satã, mas definitivamente não pela perspectiva cristã de adoração cega e rituais abusivos. No Satanismo Satã é o arquétipo da grandeza, da rebelião, da liberdade e da evolução individual que faz do ser humano o seu próprio deus em contraposição ao antigo deus tirano que exige obediência cega, tal como convencionado pelas religiões de massa. Assim, o Satanismo é o modo de vida que tem como seu centro o Eu e não o 'outro', seja este 'outro' Deus, a Nação, o Partido, a Moda, ou o que quer que seja. Deste modo Satã identifica-se com o arquétipo do 'Adversário' e do 'Inimigo' destes sistemas escravocratas que exigem a submissão da natureza humana.

Os Satanistas advogam que o ego não deve somente aceito como amplamente aperfeiçoado. Assim contrasta fortemente com caminhos religiosos e sociais que defendem que o ego deve ser ignorado, diminuído ou combatido em prol da massificação e homogeneização de comportamento e crença. Isso não quer dizer que o Satanista seja contra as pessoas de outra religião, apenas significa que combaterá por sua liberdade de ser quem é, e expulsará de sua vida todos os padrões que tentarem diminuí-lo frente à importância de algum outro deus ou valor pré-estabelecido.

Por todos os séculos pessoas dedicaram suas vidas para uma infinidade diferente de deuses. Com algumas poucas exceções, a regra sempre foi que estas pessoas acabam se encontrando com aquilo que adoram. As que se dedicam ao deus do dinheiro conseguem dinheiro. As que se dedicam aos deuses da guerra conseguem batalhas. As que se dedicam ao deus da caridade conseguem mais caridade para fazer e as que se dedicam a um deus tribal que demanda adoração cega conseguem a inexistência de uma vida que passa como se nunca tivesse acontecido com o único objetivo de agradar a esse deus.O Satanismo ensina que é hora das pessoas viverem suas vidas para si mesmas.

Entendemos que só colocando a si mesmo no centro de sua vida alguém poderá cumprir o eterno chamado do "conhecer a si mesmo". Isso exigirá que o Satanista "mate" todos os outros deuses e desenvolva um profundo auto- amor enfrentando desafios genuínos que o façam ir alem de seus limites físicos e mentais. Contudo conhecer a si mesmo é só o primeiro passo, o segundo, tão ou mais importante, consiste em "superar a si mesmo". Há então uma constante transformação do indivíduo em um ser cada vez mais forte e poderoso completo e emancipado preparado para reinar neste mundo.

Esta não é uma tarefa fácil, o que torna o Satanismo um modo de vida estritamente elitista. É uma religião para fortes, não para os fracos, para os responsáveis e não para os covardes. Para estes segundos o Satanismo não guarda qualquer compaixão e ai se difere do humanismo clássico, porque não se preocupa com a humanidade enquanto grupo, mas sim com a pessoa enquanto individuo. Conceitos como ecologia, política, e "amor ao próximo" só terão seu lugar no Satanismo se fizerem sentido e trouxerem gratificação pessoal para o Satanista num nível em que ele achar adequado.

O caminho de Satã e o caminho do auto-amor e auto-superação que permite que o ser humano seja como é e torne-se o que quiser se tornar. É essencialmente uma celebração da individualidade e, como tal, cada Satanista desenvolverá esta forma de adoração a sua própria maneira, impulsionada pela vontade e pela responsabilidade de cada um.



      II.    Satanistas acreditam em Deus e no Diabo?

Como explicado na primeira pergunta não existe somente uma maneira de se encarar o Satanismo. Existem Satanistas que têm suas razões para acreditar numa presença real de entidades como deus e o diabo, e existem Satanistas com suas razões para serem esclarecidamente ateus. Ninguém é julgado por sua maneira de pensar. Ninguém é condenado por suas crenças. Deixamos isso para as outras religiões que têm mais prática em condenar os outros.

Damos os nomes de Via Sinistrae para o caminho do Satanismo cético, ou moderno e de Via Tenebrae para o caminho do Satanismo tradicional que concebe a existência real de deus e do diabo. Não são dois caminhos opostos, mas duas vias paralelas, que enquanto seguirem alguns dos princípios que mencionaremos abaixo levarão a um mesmo fim de descobrimento e aprimoramento de um Eu Superior. Existem de fato muitos Satanistas que alternam entre a Via Sinistrae e a Via Tenebrae conforme seus próprios interesses. A linha que divide os dois caminhos é tênue o bastante para se confunda nas trevas de nosso Templo.

O nome "Satanismo" é circunstancial, porque Satã é a figura mais forte na cultura ocidental para celebrarmos aquilo que almejamos. Afinal, a noção de deus e diabo não é exclusiva e nem surgiu com o cristianismo. Praticamente toda cultura teve sua versão de um deus supremo supostamente bom, que reina e exige obediência, como Allah, Jeová, Zeus, Olorum, Omuz e Osíris e uma versão do rebelde supostamente mal que desafia este reinado como Seth, Lúcifer, Prometeus, Loki, Mauí, Iblis e Ahriman. Para os adeptos da Via Sinistrae isso só prova que os mitos refletem realidades psíquicas presentes na humanidade e forjadas de acordo com a realidade de cada povo para o benefício de uma elite e controle das massas. Já para os adeptos da Via Tenebrae, isso só prova que o Diabo e Deus do cristianismo espelham uma verdade muito maior de seres há muito existentes que sempre influenciaram a humanidade.

Contudo ambos os lados concordam em alguns pontos importantes. Em primeiro lugar, existindo como seres conscientes e autônomos ou existindo como simples idéias e arquétipos projetados pela mitologia cristã, deus e o diabo exercem uma influência extremamente forte na humanidade. Diariamente milhões de pessoas reforçam a crença no Senhor dos Exércitos e no Príncipe das Trevas. É fato que estas crenças afetam a maneira das pessoas viverem. E por fim, sendo a sociedade formada por pessoas, estas crenças afetam a todos nós. Um deus escravocrata, intolerante e hipócrita, cria uma sociedade escravocrata, intolerante e hipócrita. Assim, não importa tanto se Deus existe mesmo ou não, de qualquer forma nós precisamos matá-lo.

É interessante notar, que apesar de não acreditar na existência do diabo LaVey, autor da Bíblia Satânica, jamais escreveu nas suas Declarações Satânicas uma frase tão absolutista quando "Satã não existe", tão pouco escreveu "Satã existe", mas antes disso se preocupou em escrever sobre o que Satã representa. Desta forma o Templo de Satã concorda com ele ao dar mais importância às características apresentadas pela figura de deus e do diabo, deixando a crença na existência autônoma deles para o aspecto pessoal de cada um.

O assunto é vastíssimo, mas Deus e Satã representam uma escolha. Uma escolha sobre como podemos levar nossas vidas. Deus exige submissão, o Diabo convida a rebelião. Deus ordena abstinência, o Diabo aponta para a indulgência. Deus quer que você se sinta culpado por se sentir bem, o Diabo se sente bem por não sentir culpa. Deus demanda amor incondicional, o Diabo é pelo amor e ódio seletivo. Deus quer que você no paraíso ou no inferno quando morrer, o Diabo sabe que a guarda sua própria recompensa.

Deus é dependência, o Diabo quer sua rebelião.



    III.    Satanistas desrespeitam as leis?

É sumamente importante entender que o Satanismo não suporta qualquer prática ilegal que desrespeite as leis vigentes. Embora muitas destas leis sejam o retrato de uma sociedade atrasada, a contestação satânica é feita usando o sistema a nosso favor ao invés de tentar destruí-lo.

Inicialmente não há nada que proíba uma pessoa a matar outra, num sentido metafísico o crime é tão inexistente quanto o pecado. É preciso ter em vista, contudo que se todos agissem assim, a própria coexistência humana estaria comprometida. A única lei que não pode ser abolida é a Lei do Forte. No princípio da humanidade a ordem social era garantida pela força bruta de seus líderes, mais tarde, à lei, que é essa mesma força mascarada tomou seu lugar. Toda constituição assinada, todo martelo batido por um juiz nada mais é do que a lei da natureza afirmando que o direito reside na força. Seja na força de um ditador, seja na força da maioria.

Assim, conclui-se que cometer um crime é tão estúpido quando roubar carne de um leão. O "homem é um animal social" (Auguste Comte), precisa viver e participar do sistema, mas não ser ENGOLIDO por ele. Mesmo porque, muitas das leis de hoje defendem as liberdades individuais das qual o Satanistas desfrutam. Idéias idiotas como sacrifício humano, vandalismo em templos religiosos, molestar animais ou crianças, violação de túmulos, estupros, assassinatos e outras afins são herança da literatura medieval acerca do Satanismo. Satanismo não é moral, mas é ético; mesmo discordando de muitas leis, nós as respeitamos, pois advogamos responsabilidade aos responsáveis, e isso implica em ter consciência das conseqüências de nossos atos e comparar o retorno que diferentes comportamentos nos trarão.

Se por exemplo matar algum inimigo eu tenho saber que serei perseguido e posso ser preso e isso tirara minha liberdade. Isso trará transtornos para mim e para meus entes queridos. Perderei contato com aqueles que amo e com aquilo que gosto de fazer. Além disso, perderei tempo e dinheiro com advogados e correrei o risco de sofrer uma série de adversidades na prisão. Pergunto então, o crime compensa?

Às vezes compensa sim. Não sejamos hipócritas, se o crime não compensasse não haveria tantos criminosos impunes, inclusive tantos deles responsáveis em escrever e se fazer cumprir a lei. Testes feitos em prisões pelos criminologistas Harry Barnes e Negley Teeter afirmam que os criminosos não são menos inteligentes do que os cidadãos comuns e esses detentos representam apenas os criminosos que se deixaram prender. Estima-se que menos de 10%, das infrações cometidas são registradas pela polícia.

Repetindo, a lei é somente a expressão contemporânea da Lei do mais forte. Pese bem seu destino, pois um ladrão de galinhas pega um ano de prisão, mas um juiz que vender sentenças será no máximo "condenado" a se aposentar e viver até a morte à custa do Estado. Quem vai escapar ileso ou amargar na cadeia é você. O Satanista busca a perfeição e como diz o maior axioma da criminologia: Não há crime perfeito.



   IV.    Satanistas adoram o diabo?

A figura de Satã representa o fim da adoração a qualquer ente externo e a possibilidade da autodeificação. Como foi dito a visão do que é exatamente o diabo e qual a relação que cada Satanista tem com esta visão varia de indivíduo para indivíduo. Contudo, podemos dizer categoricamente e enfaticamente que nenhum Satanista adora qualquer entidade que não ele mesmo.

O Satanismo é contra qualquer tipo de idolatria que tire o reinado supremo do indivíduo e assim coloca-se contra a adoração de deuses, demônios, pessoas, animais, bandeiras e coisas. E para nós poucas coisas são mais abominadas do que a servidão, do que se sujeitar a uma figura que se aceite sem qualquer tipo de contestação como tendo autoridade inquestionável e sendo superior a nós mesmos. Este é o significado da serpente no Éden, da rebelião de Lúcifer e da tocha de Prometeu. O homem deixa de ser um animal domestico acorrentado e prostrado aos pés dos deuses, para assumir a responsabilidade pela sua própria vida sem que outros a assumam no seu lugar. Independente da percepção que cada indivíduo tenha da figura de Satã, não existe adoração e sim a busca de um ideal. Ao invés de adorarmos Satã nos espelhamos nele e buscamos através do autoconhecimento e da auto-superação nos tornar Satã.

As imagens de Satã, Moloch, Belial e tantos outros demônios que de fato usamos em nossos rituais, servem apenas para entrarmos em contato com o "lado negro" da nossa natureza humana, já que o "lado branco", já está sendo continuamente incentivado pela sociedade e é diariamente exercitado. Em busca de uma total integração com nós mesmos, trabalhamos com os demônios em nossas cerimônias projetando em nós suas qualidades para que possamos até mesmo ultrapassá-los e transcendê-los. Trabalhando com aquele lado que é sempre repudiado como errado, a pessoa passa a se aceitar totalmente, livra-se da dualidade e realiza a sua "verdadeira vontade", que é a vontade perfeita do ser humano, livre da egolatria e do culto exterior.

O objetivo dos rituais satânicos é sempre atingir um objetivo egoísta, ainda que seja o objetivo egoísta de ajudar o próximo. Não se prestam para adoração, mas para que comunguemos com os antigos deuses e deusas que foram jogados no abismo do esquecimento dos últimos séculos pelas religiões institucionalizadas. Sejam eles arquétipos, entidades, ou simples símbolos, a meta é sempre nos identificarmos com suas características que nos sejam proveitosas.

Mesmo quando o Satanista desenvolve uma visão/crença da existência de fato dos demônios como entidades ele não se coloca em segundo plano ou em um nível inferior perante a elas e não enxerga que estas queiram seres fracos lambendo seus pés e implorando por esmolas. Assim como o diabo se rebelou, ele se rebela, assim como ele questionou, ele questiona. Satã não é por adoradores cegos e submissos e sim por seres fortes e orgulhosos que amem a si mesmos e ao seu próprio poder de mudar o mundo.

Não buscamos ídolos, buscamos modelos de coragem, exemplos de responsabilidade e poder para nos espelharmos. Portanto, ao invés de nos sacrificarmos a deuses distantes e indiferentes, adoramos o deus mais próximo de nós e que mais se importa conosco: nós mesmos. Ainda que existam rituais e invocações estes servem para exaltar qualidades e fixar em nossa mente certos ideais, jamais sendo usados para pagarmos homenagem a um líder ou nos escondermos atrás da sombra de alguém "mais poderoso". Satanismo é o oposto da submissão e seu lema é "Amar a si mesmo sobre todas as coisas".



     V.    Satanismo é uma inversão do cristianismo?

O Satanismo é uma religião com dogmas e rituais próprios, mas de forma alguma podemos dizer que é o exato oposto do cristianismo. Com base na liberdade e luta contra a hipocrisia e na exploração de aspectos geralmente renegados da natureza humana, o Satanismo tem bases religiosas e filosóficas bem anteriores e distintas ao cristianismo. A Imagem de Satã é usada enfaticamente pelo simples fato desta ser a forma pela qual estes princípios são mais facilmente reconhecidos e representados na sociedade em que vivemos.

Ao contrário de muitas religiões o Satanismo evita cair na armadilha de dividir o mundo de forma maniqueísta vivendo na simplória dicotomia da luta entre o bem e o mal. Achamos que viver a ilusão cristã de uma maneira invertida, desejando o inferno e buscando cometer o máximo de pecados possíveis não só é uma estupidez como é também uma maneira de continuarem presas as antigas ilusões religiosas.

A humanidade sempre foi controlada e motivada por conceitos dualistas do bem contra o mal, do belo contra o feio, do sagrado contra o profano, do conterrâneo contra o estrangeiro... Enfim a lista é infinita. A história provou que é possível dar a ilusão de liberdade para os povos quando damos a eles duas escolhas, mas a verdade é que na maioria das vezes estas escolhas são limitadas e não permitem ao buscador chegar a respostas que não tenham sido previamente traçadas. É esperado que quem esteja contra algo esteja automaticamente a favor de alguma outra coisa pré-definida. Isso já foi usado para o controle das massas inúmeras vezes no passado e é usado ainda hoje em diferentes contextos do mundo contemporâneo. Cabe ao Satanista escapar desta retórica.

Entendemos que não existem só duas maneiras de se responder a uma pergunta. Anton LaVey chamava esta postura de " O Terceiro Caminho", talvez porque seja como se o Satanista se recusasse a escolher entre suas estradas pré-traçadas e abrisse caminho na mata com as próprias mãos para chegar a seu destino. Escolher o diabo não é simplesmente trocar de lado no tabuleiro, mas é sobre jogar um jogo completamente diferente.

A antiga visão de dicotomia conflitiva inaugurada por Zoroastro e perpetuada pelo cristianismo é completamente abandonada em prol de uma nova maneira de pensar e viver. O Satanismo não quer nem salvar nem condenar o mundo, não quer nem o Inferno nem o Céu. O Satanismo não quer ser a única religião da Terra e na verdade não é nem mesmo contra o Cristianismo. Só não quer ser obrigado a participar dele e de suas fantasias. O Satanismo quer liberdade para que as pessoas busquem respostas abertas no lugar de se limitar a simples questões de múltipla escolha.

As Igrejas cristãs pregam um amor incondicional, mas nós não somos contra o amor, somos sim a favor de um amor seletivo. As Igrejas Cristãs pregam a caridade a todos e a tudo, mas nós não somos contra a caridade, só achamos que esta deve partir do indivíduo e que ele deve ser reconhecido por isso. Entre abstinência e compulsão, escolhemos indulgência. Entre credulidade e ceticismo escolhemos a experiência.

Afinal, um Leão não é uma simples inversão de uma ovelha.



   VI.    Como os Satanistas encaram a vida após a morte?

O Satanismo é a religião do indivíduo, do crescimento e desenvolvimento pessoal, desta forma ele nunca poderia girar em torno de conceitos que ferissem a visão que cada indivíduo tem do mundo que o cerca, especialmente em pontos tão desprovidos de evidências concretas quanto a vida após a morte. A crença Satânica é forte o suficiente para ser flexível, para permitir que diferentes membros tenham crenças únicas e pessoais de vários assuntos. Cada Satanista entrevistado lhe dará uma resposta diferente e pessoal sobre o assunto, e o Satanismo abraça a todas sem se importar em questionar ou difundir alguma em especial. Alguns acham que a eternidade é mantida pelo seu trabalho na Terra, se lembram de sua obra você está vivo. Outros acreditam que vão voltar para uma massa primordial de energia. Existem ainda os que acreditam em reencarnação e em evolução por diferentes planos de existência. E há até aqueles que crêem que vão para o inferno e lá terão sua cadeira cativa ao lado de Satã.

Existem diversas opiniões que vão do ceticismo puro a intrincados esquemas metafísicos, mas todos nós sem exceção concordamos com o mais importante: A morte vai chegar para todos. Podemos atrasar o processo de envelhecimento, podemos aumentar a nossa longevidade e podemos evitar acidentes, mas em longo prazo até mesmo nosso universo está condenado a morrer pelas leis da entropia. Tudo fenece.

Partindo desta inevitabilidade a morte é contemplada do ponto de vista de quem está vivo e não do ponto de vista de alguém que já morreu. Para que se preocupar agora com algo que não depende de você para acontecer ao não? Temos como uma de nossas regras satânicas a máxima: Não reclame de coisa alguma à qual você não tenha que se sujeitar. Por isso antes de tecer hipóteses de uma existência após a morte física o Satanismo encoraja a Existência Terrena. Desta forma uma visão específica da vida após a morte não é o foco do Satanismo, pois todos nós compreendemos que a vida se vive hoje. Se existir algo após o falecimento saberemos quando chegar a hora. Como escreveu LaVey, o evangelho da carne e da vida será a maior preparação para todo e qualquer deleite eterno.

Outra característica comum a todos os Satanistas é a ausência de medo quanto a punições do além. O Satanista não se preocupa em pecar ou deixar de fazer alguma coisa por receio de ser julgado segundo uma moral humana e tribal defendida por esta ou aquela religião. Da mesma forma, não permitirá que o castigo de nossos inimigos e a recompensa de nossos benfeitores seja-lhes dada somente numa outra vida. Todos devem ser responsáveis pelo céu e inferno que fizerem de suas vidas na Terra.

Por isso o Satanismo, em seu aspecto de crença, não incentiva nem desencoraja a crença em algum tipo de existência extracorpórea, apenas enfatiza que o Satanista deve viver de forma equilibrada tendo em mente que é agora que ele molda o futuro, que até morrer ele tem muito o que fazer. Mesmo que desenvolva um interesse saudável por esses assuntos "metafísicos" não deve basear sua vida na expectativa do que acontecerá quando ele não estiver mais caminhando entre nós.

Resumindo, o Satanismo não devota tempo ou material demasiado para a possibilidade de uma existência após a vida, ele deixa essa possibilidade ou impossibilidade, aberta para a crença pessoal de cada Satanista. Seja qual for esta visão da pós-morte o Satanista encarará a vida que vive como a única vida que ele tem agora, por isso fará de tudo para levá-la de maneira satisfatória. E eu pergunto, se o dia de hoje não valer a pena agora, que diferença faz se existirá ou não um amanhã?



 VII.    O que é um Ritual Satânico?

Como toda forma de expressão religiosa o Satanismo também tem seus rituais. Os rituais satânicos são um conjunto de práticas cuidadosamente preparadas que criam um novo contexto de vivência e visam a satisfação do indivíduo acima de todas as coisas. É preciso esclarecer, no entanto, que os rituais satânicos não são como popularmente entendidos, práticas de abuso onde os participantes realizam atos como comer fezes com a família, sacrificar crianças, estuprar virgens ou qualquer outro tipo de imbecilidade. Tal comportamento é mais próprio de pessoas com problemas mentais e não condiz com uma religião que preza pelo progresso humano e a racionalidade.

O Satanismo é uma religião baseada na razão e na lógica, mas isso não quer dizer que ignora o aspecto emocional do comportamento humano. De fato, este é o primeiro motivo que nos leva ao engajamento ritual. Negar os sentimentos humanos é negar a própria condição humana e, portanto foi desenvolvida uma série de rituais que fornecem ao Satanistas um espaço e tempo determinado onde seus desejos, anseios, sentimentos e emoções encontram livre expressão.

O ser humano possui uma necessidade inata de fantasias e um fascínio natural pelo fantástico. Este aspecto foi incorporado por todas as religiões da Terra e traduziram-se na fé nos mais absurdos tipos de crenças. Reconhecendo isso o Satanismo inverte a situação e se antigamente o dogma e ritual eram usados para manter sistemas que atacavam seu ego e sua individualidade, então agora estas mesmas ferramentas podem ser usadas para manter a religião do poder, do prazer e do indivíduo. Para os Satanistas a fantasia não é vivida através da crença cega nas pregações dos líderes religiosos, mas sim dentro do contexto de um ritual específico, onde é o próprio Satanista está no controle.

Pelo menos dentro da câmara ritual o Satanista permite-se acreditar em tudo aquilo que previamente julgou que lhe poderia ser benéfico. Mas se existe algum tipo de magia acontecendo no ritual certamente ela não é aquela versão caricata apresentada pelo cinema e pela literatura. A verdadeira magia satânica é muito menos espalhafatosa e envolve muito mais uma mudança interna do que um espetáculo de luz e cores.

As explicações sobre como a magia realmente funciona são diversas e muitas vezes desnecessárias. Uma parcela significativa dos praticantes entende que os rituais funcionam como psicodramas, práticas de neurolinguística e seções de hipnose. Esta é uma explicação confortável que explica 99% dos casos e é usada com freqüência até que seja encontrado aquele 1% que não pode ser explicado por qualquer conhecimento científico. Por este motivo a explicação de como a magia satânica funciona não é o mais importante. Ela pode ser feita usando os jargões religiosos, ocultistas, herméticos, parapsicólogos, psicanalíticos, científicos ou mesmo deixadas de lado numa suspensão de juízo que dura da execução do ritual até sua concretização do desejo. Para o Satanistas o que importa realmente é que seus desejos sejam realizados e que os rituais ajudem a causar mudanças que não aconteceriam por outros meios.

Por outro lado, seria um contra senso os Satanistas criticarem as religiões passivas que buscam soluções para seus problemas em orações e promessas e ao mesmo tempo basear suas conquistas simplesmente em seus rituais. O Satanismo reconhece que sucesso terreno exige ação terrena e assim não usa seus rituais como boas desculpas para não correr atrás e agir em busca daquilo que quer. É um erro, por exemplo, realizar um ritual de luxúria e imaginar que Satã aparecerá na porta da sua casa e entregará a pessoa que você deseja numa bandeja embrulhada para presente. Os rituais satânicos podem fazer você entrar em contato com aspectos de sua psique antes ignorados, possa ajudá-lo a lidar com suas emoções, determinar seus desejos, moldar padrões de comportamento, livrá-lo de travas psicológicas e mesmo causar mudanças significativas em você e no ambiente a sua volta, mas nada acontecerá para aqueles que ficarem trancados na masmorra da própria inatividade. Como está escrito na bíblia satânica a verdadeira magia é como a própria natureza, e sucesso em magia requer que trabalhemos em harmonia com a natureza, não contra ela.

Portanto, num sentido mais amplo qualquer manifestação da Vontade direcionada para propósitos pessoais já uma espécie de ritual satânico, pois Satã está antes de tudo dentro de cada coração humano que se preza. Não é só com velas e pentagramas que se faz um ritual, pois existem grandes e pequenos rituais. A energia gerada pela vontade é a chave. Um pensamento firmado ao acordar ou dormir todos os dias já se torna um ritual diário. Aspectos mais elaborados só são usados na medida em que se fazem necessários ou que sejam prazerosos para que os for executar.

Contrastando com outras religiões os rituais satânicos estão sempre em desenvolvimento. Anton LaVey criou os modelos básicos, primeiramente com a Bíblia Satânica e mais tarde com seu segundo livro "Rituais Satânicos", mas além destes uma vasta liturgia foi desenvolvida pelos Satanistas. Por isso o desenvolvimento dos rituais é um ponto importante a ser estudado e praticado dentro do Templo de Satã. De qualquer forma antes da exploração avançada é preciso conhecer os três rituais satânicos "básicos" lançados por LaVey que são capazes de atender quase a totalidade das necessidades de um praticante. Estes são:

Ritual de Luxúria: O objetivo deste ritual é estimular o desejo e despertar o interesse sexual de uma pessoa em relação ao Satanista. As razões que podem levar uma pessoa a realizar este tipo de ritual não inclui somente a vontade de fazer sexo com alguém, mas também o desejo de despertar a libido de alguém a seu favor. Não é segredo que pessoas sexualmente desejadas ganham poder significativo sobre as outras, são alvos de proteção e favoritismo e se tornam bem sucedidas em diversos aspectos de sua vida. Nos domínios da câmara ritual, não há moral que impressa o Satanista de manifestar sua lascívia. O Ritual de Luxúria é o reconhecimento de que o ser humano é um ser sexual.

Ritual de Compaixão: O ritual de compaixão é realizado com o objetivo de ajudar os outros ou a si mesmo transformando um desejo específico em realidade. Alegria, Saúde, Dinheiro, Sucesso, Felicidade Conjugal, Vitalidade, Animo, Vitórias Legais são apenas algumas das abordagens deste tipo de ritual. Aqui o Satanista busca desejar o melhor para si mesmo e para aqueles que amam. Pode ser dito que este é por excelência um ritual de caridade, mantendo em mente o velho axioma de que "caridade começa em casa". Dentro da câmara ritual não há platéia que faça o Satanista sentir-se constrangido em expressar seu amor e desejar o melhor para aqueles que querem bem. O Ritual de Compaixão é o reconhecimento de que os ser humano é um animal social.

Ritual de Destruição: O ritual de destruição é usado como um agente destruidor dos obstáculos que o Satanista possa encontrar em sua vida. É por excelência um a ritual que visa prejudicar outras pessoas e desejar o que há de pior para aqueles que merecem um castigo. Não sendo necessariamente um ritual de morte é ainda assim sempre usado para trazer desgraça a quaisquer vitimas que possam estar incomodando o Satanista. Na câmara ritual não a lei que possa impedir o Satanista de expressar seus desejos de vingança, ódio e maldição. O Ritual de Destruição é o reconhecimento de que o ser humano é uma raça predadora.

Por fim, lembremos que existem ainda os rituais que são fins em si mesmos. Não buscam conquistar como os três rituais acima, mas tão somente celebrar a vivência da religião da carne. Estas cerimônias são rituais que usam de uma estética satânica para oficializar acontecimentos, comemorar eventos e celebrar aspectos da vida importantes para os Satanistas. Tudo de uma maneira marcante, significativa para os envolvidos. Este último aspecto pode ser entendido quando consideramos que na maioria das religiões os rituais são feitos para agradar os deuses. Oras, sendo os Satanistas seus próprios deuses não há nenhum motivo melhor para se realizar um ritual do que simplesmente agradar a nós mesmos.



VIII.    Satanistas realizam sacrifícios?

O Brasil possui uma lei bastante tolerante para com o assassinato. Entretanto, mesmo que a soma de crimes cometidos acumule duzentos anos na prisão, a lei estabelece como pena máxima apenas três décadas de cárcere, das quais a maioria dos condenados cumpre em média somente seis anos graças aos diversos benefícios concedidos. Isso sem contar a impunidade nos altos escalões e o perdão judicial para quando segundo o Código Penal Art. 121 § 5º “as conseqüências de a infração atingir o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária." Certamente a própria justiça é leve em casos de sacrifícios, sejam eles rituais ou não.

Contrastando com esta realidade lamentável, os Satanistas consideram a vida na Terra como uma das coisas mais sagradas e assim advogamos o retorno da Lei de Talião, que consiste na justa reciprocidade do crime e da pena: olho por olho, dente por dente.

O Satanismo é a religião da vitalidade e assim como gostaria que o Estado aplicasse os princípios básicos de justiça, também ele como indivíduo jamais atentará contra a vida dos outros. Em hipótese nenhuma um verdadeiro Satanista matará qualquer outro ser vivo ao menos que isso ocorra em legítima defesa ou para saciar a fome. A morte só é vista como lícita quando serve ao propósito maior de defender a vida.

Isso se torna ainda mais certo em relação aos bebês. Ao contrário do que reza a lenda não jorramos o sangue de recém nascidos nos nossos altares, pois como LaVey muito bem colocou em sua Bíblia Satânica "A forma mais pura da existência carnal repousa nos corpos de animais e crianças que não cresceram o suficiente para condenar seus desejos naturais. Eles podem perceber coisas que o homem de idade adulta nunca poderá perceber. Por essa razão, o Satanista mantém esses seres em consideração sagrada, sabendo que ele pode aprender muito através desses magos naturais do mundo."

Não temos duvidas de que um bebê está mais seguro nos braços de um Satanista do que no colo de um padre. Diferentemente, portanto de antigas culturas que sacrificavam animais e outros seres humanos para aplacar a fúria dos deuses, há dentro da filosofia satânica o conceito de que não há deus nenhum que mereça uma gota sequer de sangue terreno. Não há deuses a serem acalmados a não ser o nosso próprio Ego, por isso todos os dias realizamos pequenos sacrifícios de diversos tipos a fim de atingirmos fins mais elevados de indulgência.

Mesmo quando usamos um ritual satânico de destruição em nossa defesa contra alguém que tenha injustamente nos causado problemas e sofrimentos não temos nenhuma necessidade de se sacrificar diretamente o alvo de nosso ódio. Simbolicamente a vitima e destruída dentro de um contexto ritual e este feitiço ou praga, em retorno, leva a destruição física, mental ou emocional do sacrificado, que na atual sociedade não pode ser legalmente atribuída ao Satanista.

É claro que paralelamente existem pessoas que usam o Satanismo como escape para seus crimes. Pessoas como estas acreditam que portar um pentagrama e se vestir de preto são mais importantes do que aprender a pensar por si próprio e encarar os problemas da vida. Para estes seres sub-humanos existem aqueles seis anos de prisão.

A lei é fraca, mas é a lei.



    IX.    Satanistas fazem pacto com o diabo?

Uma das perguntas que mais recebo de pessoas interessadas no Satanismo é a seguinte: "Posso vender minha alma para o diabo e fazer com ele um pacto satânico?". Esta pergunta retrata bem um tipo especifico de pessoa para a qual não temos resposta senão nosso maior desprezo.

É uma pergunta feita por alguém que se aproxima da religião dos fortes com os olhos dos fracos. Que busca o Satanismo sem antes se livrar do padrão de comportamento submisso das religiões de massa. Estas pessoas não querem a liberdade, querem apenas mudar de senhor. Essa crendice cristã significa, como inúmeras outras, a negação da valorização do próprio ser humano, em prol de uma mera fábula.

Na verdade a lenda do pacto com o diabo faz parte de um vasto arsenal medieval usado para assustar os provincianos e manter os padres e reis no poder, mas só se tornou realmente popular no século XVI, quando o ser humano desejoso de ir além de suas limitações viu que não podia mais buscar ajuda dos céus e começou a perceber que Deus não estava lá, ou pelo menos que não se importava. Desamparado e sem o suporte celeste buscou-se então a ajuda daquele que estava mais próximo da terra; o diabo. Em troca de sua alma imortal, que afinal não lhe servia mais de nada, poderia assim obter sucesso e poder na Terra, enquanto anda era vivo.

Por isso, não recriminamos de todo esta lenda. Ela mostra uma necessidade humana de superar seus limites por quaisquer meios necessários, prenuncia a morte do antigo deus e declara um nível de intimidade entre o homem e o diabo que nunca antes na história havia se visto. Mas porque não levar os argumentos que criaram esta lenda para sua conclusão mais lógica? Busquemos ajuda naquele que está ainda mais próximo da terra e de nós. O apoio só virá de aquele ser que é mais intimo e próximos de nós; nós mesmos. Quem fizer isso verá então que Deus e o Diabo não o abandonaram, mas estavam observando pacientemente por detrás de seus dois olhos, esperando o dia em que o homem se tornará senhor de si mesmo.

Vender a alma representa abdicar da própria responsabilidade e isso é uma antítese do Satanismo. Tal comercio não apenas representa a abdicação da própria responsabilidade como mostra a necessidade que a pessoa tem de encontrar uma situação cômoda para continuar vivendo, já que através de um pacto teria todos seus problemas resolvidos e seus desejos alcançados, sem esforço. O pacto exigiria um esforço mínimo e uma recompensa eterna, uma ilusão falsa de como a vida deveria ser. É buscar se tornar um rei sem ter a capacidade de governar. E afinal, se o diabo de fato for real por que ele se interessaria em uma alma tão fraca e displicente?

O Satanismo não é uma religião confortável onde basta assinar um contrato, mas demanda um esforço contínuo na auto-criação e no desenvolvimento de um novo ser superior, forte e emancipado. Direto da Bíblia Satânica, lemos que "Satã demanda muito mais trabalho do que simplesmente assinar um pacto de sangue. Ele demanda que você viva a sua vida tão completamente quanto possível, que prospere com sua própria sagacidade e que evite a sua própria miséria.". Quem tem maior interesse em seu sucesso senão você mesmo? Que outro deus merece, portanto ser adorado?

Não existe qualquer necessidade de se vender a alma ao demônio para se tornar um Satanista. A maior prova disso é que muitos Satanistas sequer acreditam que realmente existam coisas como alma e espírito. O verdadeiro pacto do Satanista é afinal um compromisso consigo mesmo e com sua própria vontade. Mas se você ainda quer um ritual, aqui está um: Olhe diretamente para seus olhos no espelho todas as manhãs e diga para si mesmo: "Juro viver hoje minha vida para mim mesmo.". Viva então realmente segundo esta afirmação, seja seu próprio deus e seja fiel a sua promessa. Se persistir em com orgulho e determinação em sua aliança logo colherá os frutos de sua dedicação.

O pacto satânico é bastante simples na execução, mas muito difícil no cumprimento. Ele exige ser assinado com o sangue do seu próprio esforço. Não desvie para o lado da compulsão, nem para a prisão da abstinência. Não fuja da realidade em fantasias escapistas. Não pense nunca que não pode melhorar ainda mais. Seja o seu próprio redentor, pois mais ninguém o será. Não é um contrato que qualquer um possa assinar, pois suas clausulas não são fáceis de legitimar. Mas eu  nunca prometi que seria fácil.



      X.    Satanistas têm paz e felicidade?

O preconceito e a ignorância dos adeptos de outras religiões têm por hábito julgar os outros segundo o que lhe diz seu sistema, como se as outras pessoas fossem punidas por não seguirem seu mesmo modo de vida. Mas a verdade é que a paz e a felicidade não são monopólios de nenhuma seita ou grupo religioso. Os Satanistas vivem para conhecer a si mesmo e superar seus limites, são indulgentes consigo mesmos, satisfazem seus verdadeiros desejos e aceitam a responsabilidade por cada ato praticado. Existem portanto vários bons motivos para deixar cada Satanista em paz consigo mesmo e feliz por ser quem é. Somos plenamente satisfeitos com nossa condição terrena e sempre procuramos um meio de melhorar aquilo que não estiver de acordo. Na Verdade o hedonismo responsável é uma das chaves para se entender nossa religião.

Mas é preciso frisar que ao contrário da maioria das outras religiões não prometemos a ninguém paz e felicidade eterna. Sofremos sorte e revezes e assim não nos enganamos na ilusão de que qualquer pessoa possa feliz o tempo todo. Não que o Satanismo seja uma apologia ao sofrimento. Este título cabe melhor em outras religiões que vêem pecado no prazer e enxergam a dor como uma virtude. Nosso principal alerta é que na ânsia de seguir os modelos de felicidade definidos pelos outros as pessoas acabam esquecendo-se de viver os prazeres da vida que realmente desejam e estão ao alcance de suas mãos.

Como Madame Verdurin, descrita em "Em Busca do Tempo Perdido" o Satanista não deve esperar agradar a todos para que se possa ser feliz e como esta elegante mulher imortalizada por Marcel Proust não nos sentimos culpados em ler no jornal sobre o trágico naufrágio do Lusitânia enquanto saboreamos um delicioso croissant no café da manhã. Não se trata de sempre ignorar o sofrimento alheio, mas de aceitar a condição humana. A felicidade não é e nem nunca foi moral, porque a moral varia de tribo para tribo e a felicidade é universal e pode ser experimentada por qualquer pessoa.

As igrejas, a mídia e a sociedade como um todo impõe um modelo padrão de felicidade a ser seguido por todos, e realmente muitos o seguem sem nunca questionar nada. A felicidade tornou-se uma obrigação para muitas pessoas, que se esquece que todo crescimento envolve algum tipo de angústia. Esquecem-se do exemplo da natureza onde o assassinato é o pré-requisito da nutrição, onde as vezes chove e as vezes faz sol e onde todo parto é doloroso. Da mesma forma, nem sempre o objetivo de nossas vidas é ser feliz, pois a vida não tem um objetivo preestabelecido, mas se altera com a idade, as circunstancias e o momento de cada um.

O Satanismo defende que ninguém deve se sentir culpado, doente ou inferior por não ser feliz da maneira que é popularmente incentivada. A verdadeira paz abrange também a aceitação da angústia, trabalha com ambas as polaridades. É normal ter angústia ou tristeza de vez em quando. E quem quer que diga ser sempre feliz é forte suspeito de mascarar uma tristeza profunda. O importante é aprender a lidar com todos os nossos sentimentos, mesmo aqueles que a princípio rejeitaríamos. Os maus momentos, no final das contas podem nos ajudar a apreciar as ocasiões mais favoráveis.

Conforme coloca Pascal Bruckner, em seu livro "A Euforia Perpétua": "Na sociedade contemporânea a felicidade tornou-se um dever. Quem não entra na corrida por ser feliz é descriminado, é um "cinzentão", um "chato", um inadaptado, alguém que desperdiça a vida, um looser (para usar um anglicismo muito na voga e que bem reflete o atual estado de coisas). A felicidade tornou-se ideologia dominante. Dizer que não somos felizes, ou que não nos estamos a esforçar nesse sentido, é cometer a maior das heresias. (...) Mas mais importante do que a felicidade, é a alegria de simplesmente estar vivo, de estar aqui na terra para esta aventura efêmera."

Já existem religiões o suficiente oferecendo paz eterna e felicidade interminável. O Satanismo por outro lado oferecem vitórias e derrotas, dores e prazeres, lágrimas e sorrisos, pois é isso o que a vida trás para todos nós. Os momentos felizes não teriam significado algum se não existissem os momentos de tristeza. Seriam como calor sem frio e luz sem trevas, ou seja, seriam imperceptíveis e de nada valeriam. Viver feliz para sempre cai bem em contos de fadas, mas não é assim que funciona na vida real. Se for isso que você busca é melhor esquecer o Satanismo, mas não se preocupemos nós temos alguns feijões mágicos para lhe vender.



    XI.    Satanistas são dedicados ao mal?

Seriam os Satanistas pessoas desequilibradas com problemas familiares, emocionais e psicológicos que visam o mal estar da sociedade? Seriam satanistas maus?

Num sentido utilitarista um bom remédio é aquele que cura e um bom veneno é aquele que mata. Seguindo este principio como definiríamos o que é um bom Satanista? Certamente não é aquele que faz mais rituais, pois alguns de nós não faz nenhum. Não é tão pouco aquele que se veste de modo mais agressivo e sinistro, algumas Satanistas ficam lindas em vestidos longos de flor. Um bom Satanista é aquele que é bem sucedido. Quanto mais bem sucedido for, melhor Satanista é. Trata-se daquela pessoa que vive de bem consigo mesmo, supera seus próprios limites, cresce em poder e é, portanto reconhecida como uma pessoa que sabe se dar bem no mundo.

O sucesso pessoal é a base da medida satânica e isso automaticamente descarta a hipótese de que Satanistas são pessoas desequilibradas com problemas familiares, emocionais e psicológicos. Não estamos falando de um título para assustar os leigos, mas de uma religião que tem o Eu, como o mais elevado dos deuses. Estamos falando de sucesso terreno, prestígio e realizações e o equilíbrio pessoal nas mais diversas esferas da vida é tão importante para nós quando as cinco orações diárias são para um muçulmano. Satanismo é uma religião prática, com resultados práticos. Se uma pessoa tem problemas seja com a família, seja com o restante da sociedade, este é um forte indicativo de que alguma coisa está errada e deve ser urgentemente trabalhada.

Existem, outrossim, os pseudo-Satanistas, pessoas que desapontadas com a vida e com a religião convencional vivem um Satanismo fantasioso que nada mais é do que uma simplória inversão do cristianismo. São estes que de tempos e tempos aparecem nos jornais após serem presos tentando replicar algum ritual satânico tirado diretamente das antigas lendas e livros cristãos. Os pseudo-Satanistas podem ser reconhecidos por sua necessidade de chocar do que por viver uma vida que realmente seja coerente com os princípios satânicos. No melhor dos casos são pessoas covardes que querem impressionar os outros e na pior das hipóteses são sociopatas que tentam empurrar para o Diabo a origem de seus crimes. Para estes nossa rejeição é maior do que a da opinião pública, pois além de ser uma ameaça para a sociedade onde vivemos mancham o nome de nosso modo de vida com sua estupidez. Não é nada satânico acumular problemas e inimigos fazendo da sua própria vida uma maldição. Os pseudo-Satanistas desinformados parecem até mesmo ficar orgulhosos quando perseguidos são acusados de "Satanistas" como se merecem este nome. Mas o Satanismo não precisa de mártires.

O comportamento puramente destrutivo não traz qualquer proveito para o ser humano de modo que o verdadeiro Satanismo nunca se engaja em vandalizar e agredir os outros gratuitamente. Aquele grupo de adolescentes que você viu no jornal esta semana muito provavelmente jamais conheceu o verdadeiro Satanismo e por outro lado talvez você já respeite e admire um verdadeiro Satanista que trabalhe ou viva junto de você. Satanistas votam, pagam impostos, cuidam da família e trabalham como qualquer outro cidadão e não se dedicam suas vidas ao mal estar da sociedade.  Sendo a religião do engrandecimento pessoal, porque perderíamos tanto tempo e energia dando atenção aos outros?



  XII.    Como me torno um Satanista?

Esta pergunta é talvez a dúvida mais importante de todas deste Breve Colóquio Satânico. Quanto isso, tenho uma boa e uma má notícia: A má notícia e que ninguém que já não seja pode virar um satanista. A boa é que, se você ainda não parou de ler até aqui, então provavelmente já é um de nós.

Muitos novos adeptos ficam preocupados em entrar ou estabelecer um agrupamento satânico. Mas fazer parte de um grupo de irmãos em Satã é mais uma consequência do que a causa de uma atitude satânica. Por isso, é muito comum entre os satanistas admitir que não exista algo como uma conversão ao satanismo. O que acontece na verdade é um descobrimento de sua própria natureza. Uma desvelar de sua real personalidade livre de crenças e práticas auto-limitadoras. Trata-se de um momento de iluminação no qual você percebe que independente das crenças e religiões anteriores você continua sendo o que sempre foi, ou seja; carne humana.

Não é um ritual de iniciação ou a filiação em qualquer grupo específico que vai fazer de você um satanista. Ao contrário de outras religiões, não existe entre nós o desejo de "formar" ou "criar" mais de nós mesmos. Trata-se de um acontecimento interno antes de ser uma manifestação externa. É um processo individual e não um comportamento coletivo. É para o individuo e não para as massas.  Qualquer pessoa que precise da aceitação de um grupo para saber quem realmente é, dificilmente será um satanista.

O que realmente importa é como você vive os seus dias. Entendido isso, o próximo passo é realmente aprofundar-se neste estilo de vida. Conheçam outros como você e conheça os que vieram antes. Uma pequena bibliografia a ser estudada será por fim fornecida neste tomo para os que querem ir além a seus estudos, mas com o alerta de que se a teoria não for convertida em ação, muito do valor  de boa parte da graça do Satanismo terão sido desperdiçadas:

- A Constituição Federal Brasileira, Assembléia Nacional Constituinte
- A Bíblia Satânica, Anton Szandor LaVey
- Satanomicon, Lord Ahriman
- Lex Satanis, Morbitvs Vividvs


4 comentários:

  1. Oh! Sempre! Todos os Poderosos, Fortes, Grandiosos! Sempre! Deuses(as), Divindades, Deidades do Astral Inferior! Sempre! Ave, Salve, Viva! Sempre! Eterna, Infinitamente, Agradecido, Grato (Mesmo), de coração, de bom gosto, com prazer, de boa vontade, por tudo de bom, a mim, por tudo, Sempre a meu favor (e Jamais contra mim)! Mesmo! E, por todos os males, Sempre contra (e Nunca a favor), a todos os meus inimigos, especialmente, contra aos carnais, e principalmente, contra aos piores e maiores! Mesmo! Peço-Lhes, por favor, que todos os meus inimigos, sejam caídos, tombados, derrubados, total e definitivamente (sem exceções e com juros, mesmo)! Sempre (Mesmo)! Eterna, Infinitamente! Mesmo! Em breve, logo, agora, já! Sempre (Mesmo)! Infinita, Eternamente! Mesmo! Tomara (Tomara, Tomara)!!!

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  2. Oh! Sempre! Todos os Benditos Exús! Sempre! Especialmente, a Todos os Benditos Exús, que me ajudaram e/ou me ajudam! Sempre! Principalmente, a Todos os Benditos Exús, que mais me ajudaram e/ou mais me ajudam! Sempre! E, particularmente, ao Bendito Exú MARABÔ (PUT SATANAKIA)! Sempre! Laroiê, Mojubá, Pavanã, Modibau, Alupô, Alupandê, Saravá (Essuiê, Babá Exú, Coba Exú, Balorê Exú, Mamba)! Sempre! Malê! Sempre! Eterna, Infinitamente, Agradecido, Grato (Mesmo), de coração, de bom gosto, de bom agrado, com prazer, de boa vontade, por tudo de bom, a mim, por tudo, Sempre a meu favor (e Jamais contra mim)! Mesmo! E, por tudo, Sempre contra (e Nunca a favor), aos meus inimigos! Mesmo! Peço-Lhes, por favor, que meus os inimigos, sejam caídos, tombados, derrubados! Sempre! Em breve, logo, agora, já! Sempre! Tomara (Tomara, Tomara)! Axé!!!

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  3. Perfeito. Adquiri tanto conhecimento, que após ler alguns tópicos, só de ler o título do próximo, já sabia a resposta. Parabéns ao autor.

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  4. Que tudo de: bom (bem, ótimo, excelente, e sem exceções, mesmo), o qual eu desejei, e muitíssimo mais, fiz a favor dela (LP 04/01/1953), e todos os lucros (sem exceções, mesmo), que ela (LP 04/01/1953), teve, ainda tem, e/ou teria, às minhas custas, eu os retiro e sejam retirados, total e definitivamente (sem exceções e com juros, mesmo)! Pra Sempre (Demais)! Mesmo! Eterna, Infinitamente! Mesmo! Em breve, logo, agora, já! Mesmo! E, Nunca mais (mesmo), eu tente ajudá-la ou lhe ajude! Em Nome dos Fortes (Poderosos, Grandiosos), Deuses (Divindades, Deidades, Devas): Lúcifer, Belzebu, Satã, Leviatã, Belial, Asmodeus, Astaroth! Sempre! Hail, Agios, Ave! Sempre! Tomara (Tomara, Tomara)!!!

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