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Inno a Satana



Inno a Satana, poema de Giosuè Carducci (1835-1907), escrito em 1897, Lucifer Luciferax VII pg 2


A TI, imenso princípio do Ser, Matéria e
Espírito, Razão e Sentimento.
Quando cintila o vinho no copo como a
Alma brilha no fundo da pupila,
Quando correm a Terra e o Sol e trocam palavras de Amor,
E corre o espasmo de um himenou invisível
Que chega aos Montes e fecunda a planície,
A TI chegam meus cantos atrevidos.
Eu Te invoco, ó Satã! Rei do festim.
Volta com teu hissopo, vil Sacerdote!
Volta com teus psalmos! Satã retrocede.
Olha como a ferrugem roi a mística
Espada de Miguel,
E o arcanjo, já sem penas, se despenca
No vazio!
O raio gelou‐se na mão do orgulho Jehovah,
Como uma chuva de pálidos mistérios de planetas apagados!
Os arcanjos vão caindo do alto do firmamento.
Na matéria que nunca pára, rei do
Fenômeno, rei da Forma. Vive unicamente Satã.
No relampejar trêmulo de seu negro olhar está
seu império que aos que desviam atrai.
É ele que brilha com o sangue alegre dos
Enforcados para que a breve alegria não esmoreça,
É ele quem restaura a vida breve, que
Prorroga a Dor e o Amor reanima.
Tu inspiras. Ó Satã! O meu verso desafiando,
Deus dos pontífices cruéis e reis homicidas.
Por ti vivem Agramâncio, Adônis a Astartéa,
Que animam os mármores dos escultores.
As telas dos pintores, a lira dos poetas.
E o canto das serenas brisas que Jônia deu
A Vênus Andrômeda.
Por Ti estremecem‐se as palmeiras do Líbano
Ao ressuscitar o amante da doce Chypre.
Por Ti agitam‐se as danças e as cores.
Por Ti as virgens desfalecem de amor ante
As odoríferas palmeiras da Iduméa, onde
Branqueiam as espumas chyprianas.
Que importa que o bárbaro furor dos
Orgiáticos ágapes do ato obsceno tenha
Incendiado teus templos com a sagrada
Luz e demolido as estátuas de Argus?
A plebe vem a Ti, agradecida, entre suas
Divindades e, vencida de amor, a pálida
Bruxa com eterna angústia vem remediar
A natureza enferma.
Fôste Tu que do olhar penetrante do
Alquimista e às pupilas do Mago indomável
Revelaste mais para além do sonolento
Claustro os resplendores de novos céus.
Esquivando‐Te até nos compromissos, o triste monge
Ocultou‐se no fundo da Tebaída.
Ó alma extraviada de teu caminho,
Satã é bom e não Te abandona!
Por isso, quando passas, ele Te bendiz. Eis aqui
A Eloísa.
Em vão te atormentas sob o áspero
Burel, mísero monge.
Os versos de Horácio e de Virgílio soaram
Em teus ouvidos misturados às queixas
Dos psalmos de David.
E as formas délficas surgiram voluptuosas
A teu lado, tingindo de rosa a horrenda
Companhia das dobadeiras Lycoria e Glyceria.
De outras visões de um tempo mais belo
Povoam‐se as celas insones.
Por Ti as páginas vivas de Tito Lívio
Despertam fogosos tribunos, cônsules e
Ardente multidão.
E, repleto de itálico orgulho, dirige‐Te,
Ó monge! ao Capitólio.
As poderosas fogueiras não podem destruir
As fatídicas vozes de Wicleff e João Huss.
No espaço ressoa o grito de alerta e o
Século se renova. O prazo extinguiu‐se.
Tremem os símbolos poderosos; caem as
Mitras e as coroas; do claustro mesmo,
Surge ameaçadora a rebelião, debaixo dos
Hábitos de frei Jerônimo Savonarola.
Joga o escapulário Martim Luthero e rompe
As cadeias do pensamento humano.
E, esplêndida, fulgurante, sobre as chamas
Ergue‐se a Matéria. Satã venceu!
Um monstro belo e terrível desencadeia‐se,
Percorre o Oceano, percorre a Terra,
Vomita chamas e, fumegante como
um vulcão, Cai sobre os montes.
Devora planícies, está sobre abismos.
Oculta‐se nos antros profundos e
Surge novamente.
E eis que passa triunfante, ó povo!
Satã, o Grande.
Passa semeando o Bem por toda parte,
Montado sobre seu carro de fogo, que
Nenhum obstáculo detém.
Louvor a Ti, ó Satã! Ó Rebelião!
Ó Força vingadora da Razão humana!
Que subam a Ti, consagrados, nosso
Incenso e nossos votos!
Venceste ao Jehovah dos Sacerdotes!
Glória a Satã!

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